terça-feira, 15 de setembro de 2009

VI >> Viagem pela Maresia
"Só devemos temer o que desconhecemos. Para o mais, questinar devemos."

O sol do meio-dia cegava no seu azul-cristal sobre Mohria. Ariana perdia sua vila de vista, e sua madrinha ficava para traz. Nunca antes tinham se separado dessa forma, e agora, ela sentia que lhe faltava um pedaço. Ou isso, ou era porque já estava ficando com fome. Estava no convés do pequeno barco, quando Aiizac, o Mago da terra, saiu dele e a chamou para o almoço. Ela se virou e entrou na sala minúscula do barco. Mal chegou na porta, e de lá veio um cheiro penetrante.
- Seu prato favorito não é ? - perguntou Aiizac.
- Peixe com molho de laranja ?
- É sim. Sua madrinha me disse que gostava. Sente-se aí, já estou terminando. Você vai precisar comer bem, porque vamos fazer uma viagem um pouco longa até o continente.
- Obrigado. Vamos ir até o continente ?
- Sim.
- Eu pensei que nós fossemos até os helioporto branco.
- Vamos sim. E de lá, pegamos uma nave até o continente. Você não pode se atrasar para o ano letivo de Aizenora.
- Mas o que eu vou fazer em Aizenora ? Eu pensei que só os meninos mal-criados fossem para lá.
- Todos os meninos vão para Aizenora quando são recrutados.
- Recrutados para quê ?
Aiizac agora estava servindo o prato de Ariana com uma boa quantidade de seu peixe com molho de laranja, e depois de se servir, se sentou e disse:
- Ariana, eu tenho que lhe dizer algumas coisas antes de chegarmos ao helioporto branco. Primeiro: Lá estarão alguns homens de branco e outros de cinza, à nossa espera na nave. Haja o que houver, e perguntem o que eles perguntarem, você não pode nem deve conversar com eles.
- Eles são homens maus ?
- Não. Mas são muito curiosos, e não quero que você responda sobre coisas de que não tem certeza, ou pior, sequer sabe. Está bem ?
- Certo, mas com quem eu posso falar então ?
- Comigo. Daqui até Aizenora, e principalmente em Aizenora, você deve conversar APENAS com as pessoas que eu lhe disser que são confiáveis. Não fale sobre nada, nem sequer seu nome, nem onde estava ou estará.
- Mas tio...
- Tio ?
- É tio. a madrinha disse que você é meu tio, e disse que eu tinha que fazer tudo o que você mandasse.
- Certo, certo. Tio. Não gosto de tio, mas tudo bem. E sua madrinha está certa quanto a você ter de me obedecer, é para seu próprio bem. Verdade.
- Certo. Mas, por quê não podemos confiar em ninguém ?
- Não, eu não disse que não podemos confiar em ninguém. Só podemos confiar em quem EU disser que podemos confiar. Há muitas pessoas dizendo coisas sobre você que não são verdade. Não quero que você se complique.
Ariana ouvia tudo com atenção enquanto se deliciava com seu prato. "Está muito gostoso", pensava, "mais do que o da madrinha", e ao mesmo tempo sentia uma leve brisa do mar calmo entrar pela porta. Aiizac agora já tinha terminado seu prato, e disse:
- Bem, em segundo lugar, sua madrinha disse que você ficaria um tempo fora ?
- Disse sim, e aliás, quanto tempo, o torneio de Quartz vai começar logo.
- Sinto muito Ariana, mas você não vai jogar no torneio esse ano.
- Por quê ? Mas logo nesse ano que eu ia poder jogar ? Quanto tempo afinal nós vamos ficar fora ?
Ariana já fechou sua cara, e retrucou com um tom muito mal-criado. Qualquer um teria se irritado, mas não Aiizac, e ainda mais com A Sobrevivente. Aiizac fixou seus olhos incrivelmente verdes em Ariana e disse com a voz mais calma que pode encontrar:
- Ouça Ariana. Você vai ficar um ano em Aizenora, fazendo um treinamento intensivo, e depois vai treinar com alguns amigos meus.
- Mas treinamento para quê ?
- Não posso lhe dizer agora, mas logo você vai saber, agora, termine de comer, já estamos chegando ao helioporto.
Ariana voltou ao seu prato, que se não fosse seu preferido, não o terminaria. Tio Aiizac, como Fêmora disse para ela chamar o Mago da terra de Aizenora, fazia tudo para lhe agradar. Agora o barco diminuia a velocidade e parou. Desceram do barco, Ariana e Aiizac.
O helioporto branco de Mohria, era tudo, menos empolgante. Apenas um quadrado reto e branco em cima de uma ilha, mais nada. Ali adiante, estava uma nave cinza-prateada na forma de um C&M. Muito estranha para os olhos de qualquer um, mas o melhor que existia no mundo, e que Aizenora fazia questão de ter. Na porta estavam um senhor baixo e gordo, vestido de branco com suas mãos presas à cintura como sempre. Milo, o cehfe da ordem de Aiizac. Sábio, mas ainda assim, arrogante. Ao seu lado, estava um homem alto e magro, completamente o oposto de Milo, mas que também estava com a túnica branca. E enfileirados lado a lado em frente a porta, cinco soldados de cinza de cada lado. Simples, mas com olhares profundos e peculiares, mirando o distante. Como nossa querida Guarda Suíça do Vaticano. A mesma ideia simbolista.
Quando Aiizac e Ariana pisaram no chão, Milo veio ao seu encontro, e disse:
- Muito bem, A Sobrevivente!
Ariana se espantou com isso, olhou para Aiizac que segurava sua mão enquanto andavam firme em direção à nave, e como se nada tivesse acontecido, continuou seu caminho. Ultrapassaram Milo, os guardas, e o outro homem de branco. Entraram na nave, e que por dentro era muito menos interessante do que por fora: simplesmente não tinha nada. Tudo vazio, e branco. Aiizac continuou reto, e foi até a parede em frente, estendeu a mão e como mágica (ou tecnologia), uma porta surgiu, por onde entraram.
Lá era diferente, um camarote pequeno, com uma mesa ao centro, e além disso, Ariana estranhou, porque não se lembrava de ter visto janelas do lado de fora, mas lá, havia uma vista cristalina do mar. Quase parecia que não tinha nenhum vidro na janela.
A primeira coisa que Aiizac disse, quando largou da mão de Ariana e a deixou se sentar, foi:
- Eu disse que diriam coisas que não são verdade. Agora se sente e descanse, durma um pouco, e quando acordar, te explico melhor, aqui não é seguro.
Ariana se sentou e depois deitou, e no lugar do banco, apareceu por baixo dela uma cama, muito confortável, mais confortável do que sua cama em sua casa em Morhia.

Agora Ariana se encaminha para Aizenora, para um treinamento que não sabe bem para que servirá. Não há pessoas confiáveis à sua volta, tudo envolto em mentiras e segredos. Agora quando chegar ao seu destino, começará uma nova jornada, uma nova aventura, que não podemos dizer em que acabará. Não perca o próximo capítulo da saga de Ariana.

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