terça-feira, 25 de agosto de 2009

IV >> A conversa com o estranho
"Nunca planeje o futuro antes de tê-lo nas mãos..."

Ariana era tudo, menos paciente. Faltavam poucos metros para chegar em casa, mas ainda assim, continuava com seu interrogatório a Aiizac no meio da rua estrita à beira-mar, interrogatório esse que já dispertava o interesse dos vizinhos que rapidamente puseram suas caras na rua. A rua em que Ariana morava era um "cortiço". Aiizac, mantinha sua expressão na mesma, sem mais nem menos, e expressava interesse e indiferença ào interrogatório de Ariana, essa era uma de suas melhores habilidades: a de se manter invariável frente as situações. Ele tinha aquilo que conhecemos como "Pokerface".
Poucos passos depois, chegaram em frente a uma casinha simples, de fachada desbotada, tinta corroída pela maresia, quando Ariana se desvencilhou da mão quente de Aiizac, e correu para dentro escancarando a porta.
A casa era menor do que parecia por fora, e pouco iluminada. Uma sala-copa minúscula, com duas porta à esquerda, que davam no único quarto, que era dividido por Fêmora e Ariana, e um banheiro, enquanto à direita, dava na cozinha, de onde Fêmora imrrompeu limpando as mãos com uma expressão de preocupação.
- Madrinha - disse Ariana -, esse homem quer falar com você.
Fêmora tinha mantido os olhos em Ariana e não percebeu que estava acompanhada. Quando ergeu os olhos
para examinar a figura à luz tênue do dia, sua expressão mudou de "qual é a má notícia" para "com certeza é má notícia". Fêmora de endireitou, e disse:
- Olá Aiizac. Ariana, vá brincar lá fora um instante, nós vamos precisar conversar a sós.
Ariana era muito criança, muito teimosa, mas a única pessoa que mudava seu jeito era Fêmora. O que Fêmora dizia era lei. Não pestanejava nem argumentava, como fazia com as outras crianças. Simples, obediente. Também isso já era de se esperar, afinal, Fêmora era a única mãe que Ariana conhecia, e diga-se de passagem, cuidava muito bem dela, sem mimá-la, claro. Ariana saiu e a porta fechou. Passou por sua cabeça ficar atrás da porta fina e leve, para escutar a conversa, mas não ia fazer isso, "a madrinha não ia gostar", pensou, e realmente não era o que ela tinha aprendido. Mudou de idéia e resolveu assistir o jogo de Quartz no alto da ladeira, desta vez, apenas como espectadora.
Na pequena sala, Aiizac já se sentara à mesa, Fêmora tinha ido à cozinha pegar algo para beberem enquanto conversavam. Aiizac já tinha estado ali algumas vezes, mas ainda assim examinava cada centímetro procurando pistas por algum motivo qualquer, que não vale a pena comentar...
- Eu pensei que meninas não fossem obrigadas a fazerem o treinamento - disse Fêmora, quando vinha da cozinha.
- E não são - respondeu Aiizac -, mas eu gostaria que ela fosse treinada, só por segurança é claro.
- Você não me engana Aiizac - Fêmora disse, agora com convicção -, eu sei que nem que ela fosse um menino, você não iria metê-la na Ordem. Sei que você tem algum motivo muito forte para isso.
Aiizac baixou a cabeça um pouco e sorriu leve.
- Você me conhece melhor que a mim mesmo.
- Claro que conheço, eu te criei.
- Bem, eu ainda penso que a Ordem não é o melhor lugar para Ariana. Mas por ora, já é um começo. Depois eu a coloco em um treinamento mais avançado.
- Mais avançado? O que você está sugerindo, criá-la para derrotar Lord Vairon, se é que ele ainda está vivo?
- Ele está vivo - disse Aiizac, com um leve tom de impaciência, e ele já estava acostumado a esse ceticismo, por que ultimamente, ninguém colocava muita confiança nele.
- Você acha que ele está vivo, ninguém ainda o provou.
- Não vamos discutir isso, eu vim aqui para levar Ariana, e não discutir meus motivos.
Ao mesmo tempo que a conversa vinha se desenrolando, ninguém havia tocado nos copos que Fêmora havia trazido.
- Tudo bem então. Sei que não vou conseguir mudar sua ideia. Vamos procurá-la e preparar as malas. Mas me diga Aiizac, ela vai completar daqui a duas semanas, você não poderia deixá-la mais um pouco?
- Sinto muito Fêmora, não há tempo.
- Mas ela me pediu que preparasse uma pequena festa de aniversário, e já está quase tudo pronto. Deixe-a ficar, e daqui a 15 dias você vem buscá-la.
Aiizac suspirou, fechou os olhos sentindo o peso do pecado que estava comentendo. Ela era uma criança, mal tinha chegado aos 7 anos, ia ter sua primeira festa de aniversário. Abriu os olhos, tomou sua bebida de um gole só, e disse, em tom de funeral:
- Vou levá-la hoje. Vá buscá-la.
Fêmora repetiu o gesto da bebida, pôs o copo na mesa que os separava, e saiu pela porta, procurando Ariana, e logo desconfiou que estaria na praça, já que era seu lugar preferido para brincar.
Quando chegou lá, Ariana a viu, e veio logo.
- Vamos descer para casa, você tem que aprontar suas malas.
- Mas agora? O jogo de Quartz ainda não acabou.
- Pra onde você vai, poderá jogar muito Quartz.
Logo Ariana e Fêmora estavam em casa, arrumando as malas, e Ariana, o tempo todo fazendo seu interrogatório habitual, sem entender nada. Dali a pouco, já estavam no cais, subindo no barco de Aiizac. Fêmora mostrava tristeza em seu semblante, como se nunca mais fosse ver Ariana.
À medida que o barco rumava para alto-mar, Ariana admirava Mohria, confusa com os últimos acontecimentos, enquanto enxergava Fêmora, sua madrinha, diminuir e se disolver à distância. Já era mais ou menos meio-dia, ainda não tinha almoçado, seu estômago começava a doer, quando Aiizac veio chamá-la para o almoço. Ela tinha de ir, fosse pela fome, fosse pela curiosidade de saber o por quê de tudo aquilo estar acontecendo.

Novamente um agradecimento à Miriam, pela indicação do selo "vale a pena ficar de olho nesse blog", e a todos que estão acompanhando esta história.

Para onde Aiizac a está levando? Que treinamento é este, e por que, logo na véspera de sua primeira festa de aniversário?
Descubra qual o motivo para Ariana ser arrancada de sua casa, tão nova e as vésperas de sua primeira festa de aniversário, no próximo capítulo: "A Ordem".