sexta-feira, 17 de julho de 2009

I >> A Sobrevivente
"Não são os talentos que fazem o herói, mas suas decisões..."

Era uma sala pequena, escura, para não se discutir às claras, tinha contra a porta do lado oposto, uma mesa de madeira longa e larga, para reuniões, com seis cadeiras de estofados fofos de veludo vermelho, e ao fundo, uma lareira acesa onde crepitava um fogo azulado, meio sereno, estranho aos olhos. De um lado da sala, altas janelas que chegavam ao teto quase invisível, sem cortinas, por onde entrava a luz de três grandes luas no céu meio encoberto, bem onde se via que a pouco chovia.
Eis que de repente, entram na sala, quatros pessoas a passos largos. O primeiro estava ensopado da cabeça aos pés, era um homem forte, usava um longo sobretudo preto simples, aberto, que chegava à altura dos joelhos, e com seus cabelos pretos curtos, tinha um ar de preocupação e alívio, como se acabasse de vencer uma guerra, mas estivesse à espera de outra, seus olhos muito verdes, se destacavam na escuridão. O segundo era baixo, gordo, pernas curtas, quase correndo para alcançar o primeiro, usava uma capa verde musgo por sobre os ombros e um chapéu de mesma cor ridícula e escandalosa, escondendo os poucos cabelos oleosos, rebeldes e amarelos, ofegante, desesperado, como se estivesse com o pai à forca. O seguinte era mulher, anormalmente alta, magra, quase esquelética, com seus cabelos prateados, que se destacavam ào vestido vermelho vivo do pescoço àos pés. Segurava em sua mão direita uma bengala que mais parecia um tronco de árvore, dourado e coberto de jóias, e em sua mão esquerda, trazia um grosso livro de páginas douradas e capa de couro vermelho como seu vestido. O último, um homem mediano, realmente velho, com cabelos muito brancos, e óculos quadrados encarapitados em seu grande e estreito nariz oleoso, estava com uma túnica branca, e botas igualmente brancas, mantinha as mãos à altura do umbigo, como se estivesse segurando uma prole, e tinha um ar de sabedoria, porém muito preocupado.
O homem baixo disse, com uma voz fina e trêmula:
- Aiizac, é verdade o que aconteceu, nas docas?
- Ora é claro que não, Mongo - interveio a mulher alta, com uma voz estranhamente grossa e masculina.
- O que aconteceu, aconteceu daquela maneira, e não poderia acontecer de outra. - disse calmamente o homem de branco ao ver as expressões de indignação de todos ao se sentarem. - Agora nós temos que nos preocupar com o futuro da menina.
- Claro que a Ordem, não perderia a chance de interferir no futuro de uma vítima vitoriosa pela sorte, como a pobre menina, não é Milo. - disse o homem de preto com um tom de desafio.
- Ei Aiizac, você como um membro da Ordem, devia ter um mínimo de respeito.
- Escute Milo, ser um mago da Ordem não foi uma opção.
- Se vocês puderem deixar as discussões de casal de lado por um momento - disse em um tom cínico, a mulher alta -, talvez possamos decidir o que fazer.
- Você tem toda a razão Árgora - disse Aiizac -, bem, eu já pensei em algumas possibilidades.
- Não está pensando em colocá-la longe de vista, como faz com tudo não é Aiizac? - perguntou Milo - Bem, essa é a sua especialidade, não é?
- Às vezes Milo - disse Aiizac -, temos que tomar a decisão certa, e não aquilo que nos torna famosos. O que não é o seu caso...
- E o que você sugere, Aiizac? - disse Árgora.
- Vamos enviá-la para Mohria. Lá ela estará segura. Vamos dar a ela uma vida comum, longe deste caos, e além disso, não acredito que Vairon sumiu de uma vez. Ele vai voltar.
- De que lado você está Aiizac? - disse Milo.
- Do lado certo, Milo - respondeu calmamente Aiizac.
- Então está decidido - disse Mongo -, vamos enviar um mensageiro para os mohrianos, e...
- Não temos tempo para diplomacias, Mongo - disse Aiizac -, as docas não são um lugar muito discreto... Com certeza os agentes de Vairon estavam à espreita.
- Mas por que você pensa assim Aiizac? - disse Árgora - Nós vasculhamos todas as docas, não havia ninguém, só a menina. Nossas tropas de Sentinelas, estavam lá, viram tudo.
- Eles se assutaram com o que viram e saíram correndo - disse Aiizac -, como os covardes que todos sabemos que são.
- Lá vem você novamente dizendo que eles são mais bem preparados que nossos Sentinelas, Aiizac - disse Árgora.
- O que importa, Árgora - disse calamamente Aiizac -, como eu sempre digo, não são os talentos que fazem um homem, mas sim, suas decisões.
- Tudo bem então - disse Mongo -, chegamos a um acordo, vamos enviá-la a Mohria.

Um agradecimento a todos que queiram acompanhar a história

Descubra qual o destino d'A Sobrevivente no próximo capítulo...

3 comentários:

Miriam disse...

Você é muito exigente mesmo, hein? Enquanto não encontra a perfeição não sossega.
Simplesmente, adorei!
Bjs!

Diego Janjão disse...

E parou os textos porquê?

ta mais preguiçoso que eu?

rsrsrs

vê se dá sinal de vida!

Anônimo disse...

Muito bom garoto, esta de parabéns. Perfeito, estupendo. Abraços.